PONENTE: Ana
María Gois
INSTITUCIÓN: Presidenta
de la Fundación “Só Bem” (Valencia)
PAINEL: Red asociativa
femenina lusovenezolana: De la teoría a la práctica
O caso da Só-Bem
PROPÓSITO
Estas breves palavras têm
como único e exclusivo propósito servirem apenas para promover um debate sobre
o associativismo ou incentivar quem se proponha realizar um trabalho profundo
sobre o tema da beneficência.
ORIGENS
Não se afigura estranho
que as organizações não-governamentais surjam ao olhar despreocupado da
sociedade em períodos de crise ou de alguma convulsão social. Nesses momentos,
em que os mais desfavorecidos e desamparados procuram os necessários apoios para
fazerem face às agruras de uma vida dura, a sociedade redescobre o papel da
Igreja, na sua importantíssima componente social, e, ainda, o desempenho de
muitas instituições privadas de filantropia.
O Estado, amiúde falho de
recursos e, ainda mais grave, desprovido da necessária sensibilidade para
atender às situações mais gritantes de apoio imediato, consequência do
gigantismo de uma máquina tão burocrática quanto pesada, acaba por ser
substituído nessa função, que em absoluto lhe cabia, por inúmeras instituições
privadas.
Hoje, mais que nunca, para
podermos falar de beneficência, teremos necessariamente de abordar a
problemática dos Direitos Humanos e, consequentemente, do exercício desses
mesmos direitos.
O Estado Social, também
conhecido por Estado Providência, herança que os ideólogos e estrategos
cristãos do pós-guerra criaram, para conforto de uma Europa dilacerada por duas
contendas bélicas e por uma guerra civil bárbaras, causadoras de milhões de
mortos e de não menor número de feridos e deslocados, construiu-se não somente
com sacrifício mas, principalmente, com o sentimento de fraternidade que une os
seres humanos. Vicissitudes diversas, estranhas ao tema que hoje nos propusemos
abordar, levou o referido Estado Social a defrontar-se com uma crise que,
obviamente, afectará o tecido social mais frágil. Este último, parco de
rendimentos e debilitado na sua essência, incapacitado de recorrer à malha
estatal que supostamente o deveria defender mas que o atira para um processo
burocrático que desconhece, e do qual dificilmente consegue sair, acaba
invariavelmente por recorrer a quantos, sem atenderem a cálculos matemáticos e
questionários intermináveis, lhes dão os alimentos para matar a fome, os
medicamentos para fazer face à doença e as vitualhas que lhe tiram o frio.
Esses anónimos, que
trabalham por vezes em condições extremas, têm apenas como desiderato auxiliar
o seu semelhante. Por nada esperarem, por terem presente apenas que cumprem
objectivos morais e religiosos, já que a matriz lusa ainda se revê no
cristianismo e no legado da rainha D. Leonor, são muitas vezes esquecidos. Ou
melhor, são tão esquecidos quanto os deserdados que amparam e protegem.
O agravamento e a
agudização dos conflitos sociais, a par da demanda de serviços por parte da
população a instituições não-governamentais, fazem com que os problemas a
enfrentar sejam cada vez mais complexos. Daí que, para fazer frente a este tipo
de casos, seja necessária a aplicação de soluções de maior alcance, que incluam
pessoas qualificadas para interactuar de maneira eficaz e eficiente com outras
organizações, empresas e, em situações de maior complexidade, com o próprio
Estado.
As associações ou
sociedades de beneficência, que surgem no meio da própria comunidade quando
detectam falhas no sistema, organizam-se com o intuito de reduzirem a brecha
existente entre a realidade e o desejado, por um lado, e o necessário e o
possível, por outro. Intentam identificar as dificuldades sentidas por alguns
e, como meio de solucionar o problema, encontrar soluções específicas.
Uma questão decisiva para
a sobrevivencia destas organizações é sem dúvida, a questão do financiamento.
De facto, sentem na própria essência o valor do dinheiro e estão bem
conscientes do seu custo, constatando-se que procuram continuamente angariar
fundos (assaz escassos) para poderem levar a cabo os seus projectos e alcançar,
desta forma, os objectivos que se propõem. Podemos
enumerar quatro formas de financiamento destas associações benéficas:
1. Dádivas de
particulares (normalmente de indivíduos
que por afinidade afectiva, pessoal ou ideológica com a causa, oferecem
dinheiro, bens ou infraestrutura para o sustento das mesmas; algumas empresas
também oferecem recursos, normalmente associados a operações de publicidade e
mercadologia).
2. Financiamento
externo (às vezes o Estado, como alguns
organismos de crédito internacionais, esporadicamente disponibiliza verbas
destinadas à execução de projectos pontuais).
3. Venda de
serviços/produtos, actividades de entretenimento.
4. Ofertas
dos seus membros (em muitos casos
traduzem as contribuições mais significativos da instituição).
Observamos também que as
crises pelas quais atravessamos provocam uma aceleração das mudanças que, em
circunstâncias não críticas, vão-se gerindo paulatinamente. E os modelos e
mecanismos que foram adequados e funcionais numa determinada etapa ou situação,
transcorrido algum tempo podem estar completamente obsoletos. Daí que, sendo as
circunstancias mais complexas, os desafios são crescentes e, em parte,
aliciantes.
A responsabilidade social
que as beneficências têm adquirido nos últimos tempos, mercê dos
condicionalismos económicos que mudaram radicalmente os paradigmas sociais,
manifesta a necessidade de melhorar a capacidade institucional com a finalidade
de maximizar o seu impacto social. Em consequência há que considerar
cuidadosamente o principal recurso com que elas contam: os voluntários. Há quem
considere que a incorporação de profissionais dentro destas organizações
benéficas impõe-se como um factor decisivo, e que deve ser compreendida como um
desafio estratégico para consolidação das mesmas e uma maior eficácia. Isso
traduz, no entanto, o agravamento de custos em instituições que se debatem com
ausência de meios materiais (não obstante ricas em meios humanos).
DESAFIOS
Como associações civis temos que
tomar absoluta consciência de que pertencemos a um sector que tem
representatividade e identidade dentro da comunidade; e temos que dar o exemplo
de transparência e actuação éticas como pontos vitais para podermos manter um
alto nível de credibilidade, uma vez que a transparência e a legitimidade
sociais são atributos fundamentais da reputação e um factor chave para a nossa
sustentabilidade e sobrevivência.
Certamente que os desafios se
afiguram multíplices pois cada caso é diferente e exige um tratamento autónomo.
A distância afigura-se, não raras vezes, factor inibidor. Ainda que o nosso
raio de acção prevalecente se circunscreva ao Estado de Carabobo, não obstante
com esporádicas e cirúrgicas incursões a outras áreas, consequência da
delicadeza e da gravidade das situações em presença, nem sempre se torna fácil
e célere a deslocação.
Nem sempre a comunidade lusa,
primeira destinatária desta ajuda, ainda que estejamos abertos a qualquer
nacionalidade, tem correspondido em meios humanos. Ou seja, precisávamos de
mais voluntários para ocorrer a situações inopinadas. Felizmente que esta mesma
comunidade portuguesa tem sido pródiga em apoios materiais.
É claro que faltam medicamentos,
próteses, meios de diagnóstico e, nalguns casos, a tão desejada palavra amiga
expressa pela presença física. Com o tempo corrigiremos este último ponto pois
sabemos que teremos o arrimo necessário quando as circunstâncias assim o
determinarem.
A comunidade lusa vai envelhecendo
em solo venezuelano e, como tal, as situações de carência tenderão a aumentar.
Diversos idosos, sem família e sem meios de subsistência, fosse devido ao facto
de não terem sido previdentes ao longo dos anos fosse por desacertos do
destino, necessitam em número crescente de apoios. Tendo o Estado português
cortado a muitos deles o ASIC, mercê das dificuldades que assolam as finanças
lusas e dos abusos que se verificaram ao longo de anos, não raros vêem-se em
situações confrangedoras.
É nesta área que instituições como a
Só Bem, sediada em Valência, actua com êxito desde 14 de Novembro de 1988. Urge
fazer um estudo, porém, que seja levado superiormente às instituições oficiais,
sobre a velhice em solo venezuelano. É crível que, aumentando os casos de
mendicidade, os meios postos à nossa disposição se revelem insuficientes. Não
tanto em termos alimentares, onde a comunidade lusa se vem revelando generosa,
mas em termos de numerário, imprescindível este para a aquisição de
medicamentos e pagamento de honorários médicos e ambulatórios.
SÓ BEM
A Só Bem, nascida, no ano de 1988,
da urgência de apoiar portugueses carenciados que residiam no Estado de
Carabobo, tem trilhado um longo caminho sem, contudo, mostrar sinais de
fraqueza ou de desgaste. Bem pelo contrário, tem sabido aproveitar as sinergias
dos seus quadros, os apoios dos seus beneméritos e as vantagens do sistema para
continuar a crescer e, assim, a fazer obra de Deus na Terra.
Detentora de uma sede social que lhe
permite ter uma âncora num mar de tempestade, a Só Bem apresenta, mercê de uma
contabilidade gerida com rigor e profissionalismo, visada por uma Junta
Directiva atenta e laboriosa, as contas equilibradas. Tal facto, passível de se
reflectir no trabalho que desempenha junto de carenciados e necessitados, revela
uma instituição saudável e obstinada em cumprir os seus propósitos.
É certo que muito haveria a fazer em
termos assistenciais mas, consequência da inexistência de fundos avultados, já
que sobrevive única e exclusivamente com o apoio dos seus associados, restringe
a sua acção aos casos de maior urgência e gravidade. Neste capítulo, podemos
referir que estamos a cumprir os nossos objectivos. E podemos afirmar, sem
qualquer receio de cometermos um sacrilégio, que continuaremos a debater-nos
pela dignidade e pela respeitabilidade de quantos, traídos pelo destino,
enfrentam problemas aparentemente insolúveis.
Não nos substituímos ao Estado
Português neste desiderato de bem servir, como é óbvio, mas corporizamos aquela
forma tão lusa, herdada desde tempos imemoriais, de estarmos ao lado dos mais
necessitados e dos mais fragilizados.
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