quarta-feira, 18 de abril de 2012

2° Congresso Nacional da Mulher LusoVenezuelana


“Mulher Migrante” en Venezuela
Asociación de Estudio, Cooperación y Solidaridad

Mulher Migrante na Venezuela: Estatutos

Mulher Migrante na Venezuela: Quem somos




COMUNICAÇÃO DE MARIA DA LOURDES DE ALMEIDA

NOVA EMIGRAÇÃO: A AFIRMAÇÃO DA MULHER LUSO-VENEZUELANA



CAUSAS DA EMIGRAÇÃO: DO PASSADO AO PRESENTE

Para poder falar da nova emigração é preciso rever a sua história, para assim poder melhor compreender as mudanças que ao longo do tempo têm vindo a suceder. Para isso é importante saber os motivos que levaram, no passado, o povo português a procurar novos horizontes. Razões várias, dos tempos mais remotos à atualidade, justificam este fenómeno. De assinalar a falta dos meios de subsistência responsáveis pelo "êxodo" de emigrantes isolados e de famílias inteiras, hoje radicadas nos diversos países de imigração. É também importante assinalar as circunstâncias de natureza política que as determinaram, associadas a perseguições desta natureza, à falta de liberdade de expressão, à guerra nas antigas colónias e a práticas sociais dominantes que impulsaram a fuga de muitos jovens, antes ou durante o cumprimento do serviço militar.

A emigração de portugueses sempre esteve presente na sociedade portuguesa cuja evolução ficou mais forte ao término do século XIX e durante grande parte do século XX. Todas estas razões são as principais causas da presença da comunidade portuguesa nos cinco continentes. Inicialmente partiam os homens, para criar as condições necessárias para que a família se juntasse a eles. Isto trouxe como consequência a separação de famílias, com a mulher a cumprir as funções de pai e mãe ao mesmo tempo. O emigrante português, no seu perfil mais clássico, partia para outro país para angariar dinheiro para o futuro, pretendendo sempre regressar a Portugal uma vez cumprida a sua tarefa. No entanto, algumas mulheres nunca voltaram a ver o homem que procriou os filhos e estes nunca mais voltaram a ver o pai biológico.

Estas primeiras emigrações eram provenientes, na sua maioria, de zonas rurais, numa época em que o ensino superior era para aqueles de um status social elevado. É fácil perceber que a escolaridade dos que emigravam era pouca ou nenhuma, o que mais importava era o trabalho árduo, de sol a sol, e a escolaridade no país de acolhimento passava a um segundo plano. Até à década de oitenta/noventa o emigrante abdicava de uma vida com dignidade, no país de acolhimento, para poder ter no seu país de origem, mesmo que não usufruísse desse bem-estar. A qualidade de vida, habitação, mobiliário, gastos com os tempos livres era reduzida ao mais elementar.

A família portuguesa tendeu sempre a acentuar o aspeto da identidade, colocando de lado qualquer apelo de integração, pois este era entendido e sentido como uma ameaça à sua identidade. Os emigrantes portugueses procuraram sempre manter uma unidade cultural que os impedia de integrar as sociedades onde se inseriam, mantendo sempre a esperança e o desejo de regressar ao seu país de origem. No entanto, “a dinâmica de uma sociedade multicultural e intercultural assenta, por um lado, na cultura da autonomia, por outro, na obrigatoriedade da participação e o emigrante português, fixado na ideia de regresso, sentia pouca vontade de participar e de se integrar na nova comunidade.”

Gradualmente, este tipo de emigração sofreu alterações. Se o projeto primeiro era angariar o máximo de dinheiro no mínimo de tempo, para poder regressar, cedo a família deu-se de conta que esse projeto económico não era realizável no espaço de tempo sonhado e, prolongando-se, entrava em conflito com outros objetivos importantes - A formação escolar das crianças exigia o adiamento do regresso e obrigava a uma certa integração de facto, em conflito com a ideia do regresso. A redistribuição de papéis na família, muitas vezes de forma pouco fiel à tradição, começava a afirmar-se à medida que as mulheres encontravam formas de trabalho remunerado.


IDENTIDADE DA MULHER LUSO-VENEZUELANA

Inserir-se numa sociedade cujos valores políticos, culturais, sociais e econômicos diferem daqueles do país de origem, juntamente com as dificuldades linguísticas, é a principal problemática de qualquer comunidade emigrante. Os filhos de portugueses eram dos grupos menos representados no ensino secundário e nas universidades até meados do século XX. Portugal, ainda estava sob um regime ditatorial fascista e apresentava traços duma sociedade agrária, atrasada e subdesenvolvida. Para se entender a situação da mulher portuguesa devemos assinalar que “era encarada como célula social básica de reprodução da ordem e das tradições culturais”. O trabalho assalariado estava reservado aos homens, principalmente as atividades liberais e as realizadas em órgãos públicos, cabendo às mulheres o de baixa qualificação e remuneração. A mão de obra feminina era composta basicamente por mulheres provenientes das classes mais baixas que se dedicavam principalmente às atividades rurais e, nas zonas urbanas, ao trabalho como empregadas domésticas ou em pequenas lojas.

A perda da identidade portuguesa pode, e em efeito acontece em muitos casos, na segunda geração entre os filhos que alcançam o ensino superior. As mulheres que atingem o ensino superior têm mais probabilidades de se inserirem na sociedade do país de acolhimento.

Estudos realizados assinalam duas vertentes nas razões que levaram a mulher a trabalhar fora de casa:
1.- A precária condição financeira da família de origem assim como a precária condição económica da família constituída depois do casamento. Nestes casos a mulher não continuou os seus estudos secundários.
2.- As mulheres de famílias com boas condições económicas ou de famílias com bom nível educacional atingiram o ensino superior e exercem funções na docência, administração pública, meios de imprensa, etc.

Através de testemunhos podemos constatar que a educação familiar teve um peso significativo na formação e na vida das mulheres de origem portuguesa, tendo muitas delas relatado que os pais eram severos e austeros, ensinando principalmente os costumes da sociedade portuguesa. Relatam que tiveram uma educação diferenciada em comparação aos irmãos, pois, não gozando de nenhuma liberdade, deveriam ser acompanhadas sempre que saíam de casa, seja pela mãe ou por um irmão. Os pais controlavam bem de perto a sua vida até ao casamento, para entregar a filha "intata" ao futuro marido. No entanto, as mulheres da segunda geração, que atingiram um nível educativo superior, são pessoas na maioria das vezes com uma identidade ambígua. Conhecem bem os padrões da pátria dos seus pais, não partilham a sua rigidez, mas gostam dos seus hábitos alimentares e das reuniões familiares aos domingos e nos dias de festa. No entanto, já não conseguem ter grande fluência na língua dos pais, limitando o seu vocabulário ao indispensável para a comunicação doméstica. Isto traz como consequência que seja mais fácil expressarem-se na língua do país onde vivem e muitas vezes já nem se identificam como portuguesas.


A ATUAL MULHER LUSO-VENEZUELANA

Em março de 2011, com motivo do Dia Internacional da Mulher, um jornal local, Correio de Venezuela, falou de várias mulheres na diáspora luso-venezuelana, o que me parece muito ilustrativo para demonstrar a reafirmação da mulher luso-venezuelana.

1.- Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas
Actualmente, a responsável pela liderança das damas lusitanas é Mary Monteiro, que, com o seu temperamento e a sua paixão pelo trabalho social, tem dado importantes contributos em benefício dos mais necessitados. No entanto, não está só: É acompanhada por Teresa de Fernandes, Maria Fátima Pita, Mari Cova, Luz Da Silva Branco, Maria Eugénia de Freitas, Maria José Vieira.
A Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas ajuda também instituições venezuelanas como a Avepane, Hospital de Crianças J. M. de Los Ríos, Asocirpla, Fundana, Fundação Padre Pio, entre outras. Para além disso, faz donativos permanentes a algumas famílias e ajuda algumas pessoas em processos cirúrgicos e no tratamento de doenças. Outro importante trabalho levado a cabo pelas Damas Portuguesas é a administração do Lar Padre Joaquim Ferreira. Neste caso, as pessoas encarregues de dirigir a instituição são Maria Inocência da Silva, Vera Natália Bastos, Maria Rosa Martins, Crisanta Campos, Manuela Rodrigues, Maria José Abreu, Maria Augusta da Silva, Natália Rodrigues, Maria Fernanda Moreira, Alda de Sousa e Jeanethe Sousa.

2.- Academias da Espetada
Foi no ano 2003 que Noemi Coelho, acompanhada por um grupo de mulheres habitantes de Maracay, estado Aragua, organizou a primeira Academia da Espetada na região. A ideia era simples: Fazer um jantar mensal durante o qual um grupo de mulheres comessem espetada e angariassem dinheiro para obras de beneficência. Actualmente, a Academia estende-se a Caracas e Barquisimeto. É ainda esperada a criação de uma terceira filial no estado Carabobo.
A Academia da Espetada de Maracay organiza tertúlias de beneficência há oito anos.
A atual presidente, Ana Maria Abreu, conta com o apoio de Fátima Fernandes de Pestana, Adriangela Gonçalves, Fátima Soares, Ana Maria de Veracruz, Maria Helena de Veracruz, Salomé de da Silva, Maria Graça de Canha, Micaela Varguem, Conceição Figueira, Elisabety de Abreu, Maria José Gonçalves, Jovita Da Silva e Manuela Fernandes.
A Academia da Espetada de Caracas foi criada a 18 de maio de 2009. Conta com a orientação de Sílvia Henriques, acompanhada por Maria Couto, Mónica da Silva, Elsa Abreu, Maria Odília Rodrigues, Maria Luísa Nunes, Maria José Farias e Ana de Castro, e mais de 100 mulheres que se reúnem mensalmente em diferentes restaurantes e salões de banquetes da capital. Meses mais tarde, a 19 de Outubro de 2009, Trinidad Macedo teve a ideia de organizar a Academia da Espetada em Barquisimeto, estado de Lara, onde, junto com Maria Matias, Fátima Macedo, Maria Mestre, Irene Ferrão, Conceição de Sousa, Teresa da Silva, Janeth Farias e Eleonara Soares, já realizaram 15 encontros.

3.- A presidente da Câmara Municipal de El Hatillo
Myriam do Nascimento. Licenciada em Publicidade e Marketing, e com cursos em áreas como Gestão e Legislação Municipal, Administração Tributária, Participação Cidadã e Controlo de Gestão, trabalhou durante 25 anos no sector público.

4.- Assembleia da República
Deputada do partido do poder Desirée Santos Amaral: Licenciada em Jornalismo e defensora acérrima dos direitos individuais, passou das páginas dos jornais aos meandros da Assembleia Nacional venezuelana.

5.- Conselheiras das Comunidades Portuguesas
a.- Lic. Maria de Lurdes De Almeida- professora de línguas, magister em planificação educativa, condecorada em várias oportunidades pelo seu desempenho laboral dentro e fora da comunidade.
b.- Estela Lúcio- presidente da Associação dos Filhos de São Vicente, empresária.

6.- Executiva na área farmacêutica
Noreles Mendonça Mendes- luso-descendente iniciou o curso de Farmácia na Universidade Central de Venezuela. Em 2002, saiu já licenciada, com especialização em Análise de Medicamentos. Posteriormente, fez uma pós-licenciatura também na UCV, juntando ao seu currículo uma especialização em marketing de empresas. Começou a trabalhar de imediato numa farmácia, para depois integrar a equipa de profissionais de um laboratório nacional. Mas também se manteve durante pouco tempo, pois, passado menos de um ano, assinou um contrato para trabalhar na Sanofi–Synthélabo. Desde 2004 trabalha nesta empresa farmacêutica, que hoje se chama Sanofi-Aventis.

7.- Artes e Espetáculos
a.- Marlene de Andrade: Esta modelo e atriz luso-venezuelana, depois de passar pelo Miss Venezuela 1997, iniciou uma carreira como modelo em diferentes países. No regresso à Venezuela, foi escolhida para encarnar ‘Pipina’ na novela ‘Carita pintada’. Daí seria sempre a subir, participando noutras produções como ‘Mis tres hermanas’, ‘La soberana’, ‘Trapos íntimos’, ‘Mujer con pantalones’, ‘Arroz con leche’, ‘La vida entera’ e ‘La Mujer Perfecta’. Isto sem contar com o papel no filme ‘La señora de Cárdenas’ e ainda as fotografias como ‘Chica Polar’.
b.-Marjorie de Sousa: Esta atriz começou a sua carreira artística aos 12 anos em alguns comerciais para televisão. É em 1999, depois da passagem pelo Miss Venezuela, que inicia a sua carreira como atriz de televisão, nas telenovelas ‘Amantes de Luna Llena’, ‘Guerra de Mujeres’, ‘Gata salvaje’, ‘Mariana de la noche’, ‘Rebeca’, ‘Ser bonita no basta’, ‘Y los declaro marido y mujer’, ‘Amor Comprado’, ‘¿Vieja yo?’, ‘Pecadora’ e ‘Sacrificio de Mujer’. Destaca-se também o seu desempenho como modelo para marcas conhecidas como a Polar e a Pepsi-Cola.
c.-Myriam Abreu: A jovem atriz luso-descendente saltou para a fama depois de participar no certame de beleza mais importante do país, onde representou o estado de Miranda. Desde então, a sua carreira se desenvolveu com participações no talk show ‘Cásate y Verás’ e na série juvenil ‘Túkiti’. Depois interpretou personagens nas telenovelas ‘La Trepadora’, ‘Necesito una amiga’ e ‘Libres como el Viento’.
d.-Aileen Celeste: Esta luso-descendente começou a sua carreira no ‘El club de los tigritos’ e como animadora de ‘Toda acción’. Posteriormente, iniciou a sua carreira de atriz com as telenovelas ‘Jugando a ganar’ e ‘Calipso’. Depois de seis meses a trabalhar como modelo no México, regressou à Venezuela para participar nas telenovelas ‘La niña de mis ojos’, ‘Mi gorda bella’, ‘La Cuaima’, ‘Natalia de 8 a 9’, ‘Mujer con pantalones’, ‘Por todo lo alto’ e ‘Nadie me dirá como quererte’. Isto sem contar com a sua participação nos comerciais da Chinotto, Coca-cola, Wella e Biotherm.
e.-Laura Vieira: É comunicadora social, estudou jornalismo audiovisual na Universidade Católica Andrés Bello (UCAB) e licenciou-se em Gestão. De sublinhar que depois de ter sido avaliada pela sua tese universitária, obteve o segundo lugar do prémio Eduardo Frías e uma bolsa para estudar no exterior, assim viu publicado grande parte do seu trabalho. O profissionalismo desta luso-descendente foi observado por milhares de espetadores em ‘El Informador’, ‘Sálvese Quien Pueda’ e na apresentação de programas como o Miss Mundo e Miss Universo.
f.-Catherine Correia: Com apenas 9 anos de idade, esta atriz iniciou a formação artística ao estrear-se nos palcos com ‘El Libro de la Selva’. Aos 19 anos, começou os estudos de Filosofia na Universidade Católica Andrés Bello, que não continuou por diversos compromissos artísticos. Quatro anos depois participou em três obras consecutivas: ‘Buster Reatón’, ‘Submarino Amarillo’, ‘Cuentos de Sábado’ e ‘Yerma’. Em 1993, começaria a sua fama ao animar o ‘Club Disney’ na RCTV e com a participação nas telenovelas ‘El Desafío’, ‘Entrega Total’, ‘Llovizna’, ‘Cambio de Piel’, ‘Aunque me cueste la Vida’, ‘Carita Pintada’, ‘Viva la pepa’ e ‘La Cuaima’.
g.-Flor Helena Gonzalez: Iniciou a sua carreira aos 10 anos de idade no espectáculo ‘Domingos con Popy’. Tempos depois, iniciou a formação em representação e participou nas telenovelas ‘María Soledad’, ‘Por estas calles’, ‘La Dueña’, ‘Doña Perfecta’, ‘El Hombre de hierro’, ‘Amores de fin de siglo’, ‘Cambio de piel’, ‘Mis tres hermanas’, ‘La Soberana’, ‘Juana, la Virgen’ e ‘La Cuaima’.
h.-Vanessa Gonçalves: Nasceu a 10 de fevereiro de 1986 e fez vibrar a comunidade lusitana a 28 de Outubro do ano passado, ao ser coroada como a primeira Miss Venezuela de origem portuguesa. Estudou na faculdade de Odontologia da Universidade Santa Maria, e no seu primeiro ano de reinado, Vanessa tem participado em diversos programas televisivos nacionais e internacionais, convertendo-se numa das figuras do ano no mundo.


CONCLUSÃO

Se bem é certo que nos princípios da emigração portuguesa, no que se refere à Venezuela, observamos a típica emigração da mala de cartão, a saudade do país que deixaram atrás e da família que só voltariam a ver depois de muitos anos, não é menos certo que esta emigração logrou inserir na comunidade venezuelana e trespassar as barreiras culturais e linguísticas que num principio lhes parecia quase impossível. Os portugueses estão hoje perfeitamente integrados na cultura, na sociedade e na vida económica venezuelana. No entanto também observamos que as novas gerações estão a afastar-se das raízes portuguesas. É por isto que Portugal deve reforçar a relação ibero-americana, que deve passar pelo fortalecimento nas áreas política e económica, mas também pelas educativa e cultural. Não podemos perder de vista que o multiculturalismo e a globalização são fenómenos crescentes e irreversíveis.


BIBLIOGRAFIA
- Revista Eletrónica de Geografia e Ciências Sociais - Universidade de Barcelona. Nº 94 (30) 1 de agosto de 2001. Prof. Dr. Jorge Carvalho Arroteia - Universidade de Aveiro
- RTP- Ei-los que partem- A História da Emigração Portuguesa-Serie Documental
- Memórias da Emigração Portuguesa- Porque emigram os Portugueses- Carlos Fontes
- Jornal Correio de Venezuela
- Os Portugueses na Venezuela- -Nancy Gomez- 2010
- Cadernos Ceru- História da Mulher Migrante
- Imaginário.- Junho 2007- ISSN 1413-666X

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