Para poder falar da nova emigração é
preciso rever a sua história, para assim melhor compreender as mudanças que ao
longo do tempo têm vindo a suceder. Para isso é importante saber os motivos que
levaram, no passado, o povo português a procurar novos horizontes. Razões
várias, dos tempos mais remotos à atualidade, justificam este fenómeno. De
assinalar a falta dos meios de subsistência responsáveis pelo "êxodo"
de emigrantes isolados e de famílias inteiras, hoje radicadas nos diversos
países de imigração. É também importante assinalar as circunstâncias de
natureza política que as determinaram, associadas a perseguições desta
natureza, à falta de liberdade de expressão, à guerra nas antigas colónias e a
práticas sociais dominantes que impulsaram a fuga de muitos jovens, antes ou
durante o cumprimento do serviço militar.
A família portuguesa tendeu sempre a
acentuar o aspeto da identidade, colocando de lado qualquer apelo de
integração, pois este era entendido e sentido como uma ameaça à sua identidade.
Os emigrantes portugueses procuraram sempre manter uma unidade cultural que os
impedia de integrar as sociedades onde se inseriam, mantendo sempre a esperança
e o desejo de regressar ao seu país de origem. No entanto, “a dinâmica de uma sociedade multicultural e
intercultural assenta, por um lado, na cultura da autonomia, por outro, na
obrigatoriedade da participação e o emigrante português, fixado na ideia de
regresso, sentia pouca vontade de participar e de se integrar na nova
comunidade”.
Gradualmente, este tipo de emigração
sofreu alterações. Se o projeto primeiro era angariar o máximo de dinheiro no
mínimo de tempo, para poder regressar, cedo a família deu-se de conta que esse
projeto económico não era realizável no espaço de tempo sonhado e,
prolongando-se, entrava em conflito com outros objetivos importantes - A
formação escolar das crianças exigia o adiamento do regresso e obrigava a uma
certa integração de facto, em conflito com a ideia do regresso. A
redistribuição de papéis na família, muitas vezes de forma pouco fiel à
tradição, começava a afirmar-se à medida que as mulheres encontravam formas de
trabalho remunerado.
Através de testemunhos podemos
constatar que a educação familiar teve um peso significativo na formação e na
vida das mulheres de origem portuguesa, tendo muitas delas relatado que os pais
eram severos e austeros, ensinando principalmente os costumes da sociedade
portuguesa. Relatam que tiveram uma educação diferenciada em comparação aos
irmãos, pois, não gozando de nenhuma liberdade, deveriam ser acompanhadas
sempre que saíam de casa, seja pela mãe ou por um irmão. Os pais controlavam
bem de perto a sua vida até ao casamento, para entregar a filha
"intata" ao futuro marido.
No entanto, as mulheres da segunda
geração, que atingiram um nível educativo superior, são pessoas na maioria das
vezes com uma identidade ambígua. Conhecem bem os padrões da pátria dos seus
pais, não partilham a sua rigidez, mas gostam dos seus hábitos alimentares e
das reuniões familiares aos domingos e nos dias de festa. No entanto, já não
conseguem ter grande fluência na língua dos pais, limitando o seu vocabulário
ao indispensável para a comunicação doméstica. Isto traz como consequência que
seja mais fácil expressarem-se na língua do país onde vivem e muitas vezes já nem
se identificam como portuguesas.
Se bem é certo que nos princípios da
emigração portuguesa, no que se refere à Venezuela, observamos a típica
emigração da mala de cartão, a saudade do país que deixaram atrás e da família
que só voltariam a ver depois de muitos anos, não é menos certo que esta
emigração logrou inserir na comunidade venezuelana e trespassar as barreiras
culturais e linguísticas que num principio lhes parecia quase impossível. Os
portugueses estão hoje perfeitamente integrados na cultura, na sociedade e na
vida económica venezuelana. No entanto
também observamos que as novas gerações estão a afastar-se das raízes
portuguesas. É por isto que Portugal deve reforçar a relação ibero-americana,
que deve passar pelo fortalecimento nas áreas política e económica, mas também
pelas educativa e cultural. Não podemos perder de vista que o multiculturalismo
e a globalização são fenómenos crescentes e irreversíveis.
A Associação Mulher
Migrante na Venezuela deseja a
todos os migrantes residenciados neste país um futuro de esperança, paz e
armonia. PAZ NA TERRA AOS HOMENS E MULHERES DE BOA VONTADE.
Contacto: Milu de Almeida
(Presidente)
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A 4 de dezembro de 2000 a Assembleia
Geral da ONU,devido ao aumento dos fluxos migratórios no mundo, proclamou o dia
18 de Dezembro dia dos migrantes internacionais. Dez anos
atrás, neste dia, em 1990, a Assembleia já aprovara a Convenção Internacional
sobre a protecção dos direitos de todos os trabalhadores migrantes e membros
das suas famílias.
No seu relatório à Assembleia Geral,
em outubro de 2013, o secretário-geral delineou um plano ambicioso de oito
pontos para que a migração obtenha benefícios : migrantes, as sociedades de
origem e também do destino. "A migração é uma expressão da aspiração
humana de dignidade, de segurança e de um futuro melhor. É parte do tecido
social da nossa condição como uma família humana", disse o
secretário-geral nas suas observações.